terça-feira, 11 de junho de 2013

O absolutismo contido em medidas democráticas

Todas as vezes que discuto o tema democracia recordo-me da primeira decisão tomada pelo povo, quando Pôncio Pilatos, prefeito da província romana da Judeia, exercia, também a função de juiz e, "lavou as mãos", deixando ao povo a decisão de crucificar ou não Jesus Cristo, ainda que estivesse convicto de que não havia como provar nada contra ele capaz de levá-lo à morte. A primeira incongruência no "ato democrático" de Pilatos é: deve, um juiz, convicto de que não há nenhuma prova contra o réu, deixá-lo ser levado a julgamento público? Ainda mais quando tem a convicção de que, se o fizer, o réu será condenado, embora inocente? O absolutismo da democracia pode levar a situações extremamente injustas, ou, na mais positiva interpretação, a um "faz-de-conta" histórico. Fiz toda essa espécie de "nariz-de-cera" como provocação para refletirmos sobre o capítulo de Alice nos País das Maravilhas que é a discussão com os estudantes do "Plano de curso", no primeiro dia de aula, exigência contida nos manuais absolutistas das democráticas decisões nas universidades brasileiras. A prática é passível de avaliação, muito embora a avaliação do professores pelo estudante, também não passe de um faz-de-conta. Afinal, se faz, de cara, no mais das vezes, a seguinte pergunta: "O professor (a) apresentou e discutiu o Plano de Curso com os estudantes do primeiro dia de aula?" Em todos os meus anos de Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cumpro rigorosamente o tal item. Não lembro de ter despertado o interesse de nenhum estudante, desde 1993, para o Plano de Curso, que hoje prefiro denominar Plano de Aprendizagem. Nem mesmo alguma sugestão bibliográfica recebi. O que se tem é, na prática, um ritual puramente burocrático de cumprimento da exigência legal e regimental. Nunca defendi que o professor ou professora seja dono absoluto e pleno dos conhecimentos que envolvem a disciplina por ele ministrada. Muito menos dos métodos e metodologias. Mas, criar essa obrigatoriedade de discutir com os estudantes o Plano de Curso é o tipo de medida absolutista para parecer democrática. Obrigatoriamente sim, este plano deve ser profundamente discutido com uma pares, em um planejamento coletivo, inclusive, com a participação dos representantes dos estudantes, é um procedimento necessários e saudável. Fazer de conta que se discute o Plano de Curso, no entanto, é fingir ser democrático. O máximo que se tem feito, ao longo dos anos, é apresentar o Plano e redefinir algumas datas. Com o agravante de a sala de aula, no mais das vezes, estar esvaziada pela "crença" de que não se deve ministrar aulas na primeira semana, no início de cada período. Lastimável!

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!


Visite também o Blog Gilson Monteiro Em Toques e o novo Blog do Gilson Monteiro. Ou encontre-me no www.linkedin.com e no www.facebook.com/GilsonMonteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe! Comente! Seu comentário é fundamental para fazermos um Blog participativo e que reflita o pensamento crítico, autônomo livre da Universidade Federal do Amazonas.