domingo, 5 de agosto de 2012

Governo incentiva graduação na iniciativa privada


O governo brasileiro e parte dos intelectuais do País (se é que essa figura existe pelas bandas de cá) defendem, ainda que não abertamente, um modelo de educação no qual o Estado abre mão de “cuidar”, no nível superior, dos cursos de graduação e passa a ter um olhar dirigido aos cursos de Pós-graduação. A tendência atual parece ser de transferir à iniciativa privada a tarefa de formar os estudantes de graduação e, às universidades públicas, a formação em pós-graduação. Ao sancionar a lei que troca dívidas das instituições particulares por bolsas do Programa Universidade para todos (ProUni), o Governo Federal, além de transferir recursos públicos para a iniciativa privada, manda o recado: cuidem da graduação no País! Paralelo a esse movimento, o Governo, ao invés de investir efetivamente na carreira de docente federal, investe abertamente em criar uma disputa insana dentro da própria categoria: forja um acordo com a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes-Federação) que só acentua a vala abissal que existe entre os professores dentro da própria carreira. E se isso já existe na carreira atual, com os 17 níveis, essa distância entre os que iniciam (com títulos menores como de especialização e mestrado) e os mais próximos do topo da carreira (com títulos de doutores), a carreira proposta acentua ainda mais esse desnível e, por incrível que pareça, prejudica sensivelmente os professores Associados, faixa na qual, ou estão, ou vão entrar os professores que atuam nos programas de Pós-graduação no País. Ora, ao retirar o incentivo financeiro, quando não, dificultar a progressão dos professores que trabalham nos cursos de Pós-graduação, o Governo manda outro recado: virem-se! A criação dos mestrados profissionalizantes, com a possibilidade de esses cursos serem pagos, é mais um movimento para, também, o governo sair, de mansinho da pós-graduação financiada pelo Estado. Esse modelo produtivista, portanto, tem uma lógica perversa: retira do Estado a obrigação constitucional de financiar a educação superior no País e transfere aos professores “produtivos” o mérito pelo financiamento das instituições. Na concepção de carreira defendida pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), os professores recebem uma remuneração justa e digna para ser professor e desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma equilibrada. E foi por acreditar nessa concepção de carreira que entramos em greve. Não cabe ao professor captar recursos para as instituições. Isso é tarefa do Estado e da administração superior. Ao cair na armadilha de que “é o melhor, o mais produtivo”, o professor termina por funcionar como fonte de exploração do capitalismo de Estado. Com isso, nas greves, passa a atuar ao lado do patrão, o Estado, e não ao lado dos demais colegas professores. Refletir sobre isso é fundamental para entender a lógica da carreira que defendemos conjuntamente por meio do Andes-SN.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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