segunda-feira, 9 de julho de 2012

Crônica de um não-grevista: dois meses sem salários


A greve tem algumas “passagens” que é preciso muita calma para se entender. Do ponto de vista pessoal, por exemplo, tenho razões de sobra para não aderir a mais nenhuma luta da categoria dos professores. Na greve de 2001, por exemplo, padeci, com toda a família, por ter com dois meses de salários cortados numa reação do Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) tão feroz quanto a que oo Governo Dilma Roussef ameaça fazer agora. O que me deixou revoltado durante muito tempo é que fui vítima de uma das maiores injustiças que se pôde perpetrar neste País (certamente outros professores também o foram). Acontece que naquele ano de 2001 eu era professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mas, estudante de doutorado da Universidade de São Paulo (Usp), nem estava em Manaus quanto fora decretada a greve da categoria. Além do mais, a Usp, por ser estadual, não entrou em greve. Portanto, todas as atividades de estudante de doutorado foram mantidas. No entanto, por mais que eu tenha tentado argumentar sobre o problema, tive o ponto cortado durante dois meses. Em São Paulo, com mulher e dois filhos, fui obrigado a fazer mágica apenas com o dinheiro da bolsa de doutorado para pagar o aluguel, transporte e alimentação. Não houve saída: recorri a saques dos cartões de crédito e cheque especial. Depois que os grevistas ganharam na justiça o direito de receber os salários de volta, meu rombo financeiro era impagável. De 2001 a 2003, tive de rolar a dívida, pois, quando recebi o dinheiro dos dois meses de salários atrasados, não deu nem para pagar metade da dívida acumulada. Saí daquela greve revoltado e com a sensação de ter sido vítima do uma tremenda injustiça. À época, procurei a Associação dos Docentes e não recebi nenhum tipo de orientação ou ajuda. Só a partir de maio de 2003, depois de ter voltado para Manaus, dado entrada no processo de promoção e passar a receber como doutor, comecei, mês a mês, a pagar minhas dívidas. Passei mais de 8 anos sem me associar ou participar de qualquer atividade da categoria. Aos poucos, voltei a participar. Em seguida, associe-me. E hoje estou aqui, em Brasília, ameaçado de ter o ponto cortado novamente. Ficarei até o dia 13 como delegado da Adua junto ao Comando Nacional de Greve (CNG). No mesmo dia, à tarde, estarei na Adua para fazer o relato da minha estada já no Comando Local de Greve (CLG), do qual faço parte e não abandonarei de forma alguma, a não ser que a categoria decida pelo fim da greve. Naquela época, quando tive os dois meses de salários suspensos, pensei até em fazer greve de fome. Hoje, caso o governo corte meu salário, não recorrei ao cheque especial nem aos saques de cartões de crédito. Irei à justiça para garantir meus direitos. E, acredito desta vez, terei apoio do sindicato, caso o governo cumpra a absurda ameaça que fez.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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