domingo, 27 de maio de 2012

Greve não pode ser chapa-branca

É inexplicável a posição de alguns professores e professoras das universidades públicas brasileiras de só aderir às greves após a reunião dos Conselhos Universitários (Consunis) que, quase sempre, divulgam moções de apoio. Nem sempre, porém, essas moções refletem o pensamento dos reitores e reitoras das Instituições de Educação Superior (IES). Covenhamos, nesse processo todo de “apoio” dos reitores aos professores em greve há muito de hipocrisia, de um lado, e proselitismo político de outro. Se não, vejamos! Os professores, lá na ponta do processo, são trabalhadores. Fazem greve ou não queiram ou não os Consunis das IES. Na outra ponta, estão os reitores (e reitoras) inegavelmente, representantes do Ministério da Educação (MEC), que é Governo Federal, portanto, patrão nessa história. Ao emprestar apoio aos professores em greve, reitores e reitoras, o fazem por dois motivos fundamentais. O primeiro é muito claro: são escolhidos por voto direto da comunidade, num tipo de eleição na qual os professores possuem 70% do peso dos votos. Ficar “mal” com a fatia mais combativa dessa categoria é dar um tiro nos próprios pés. O segundo motivo é ainda mais claro: como a Associação Nacional dos Dirigentes Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), antes do “Governo dos Trabalhadores” um peso-pesado nas negociações com o Governo Federal, hoje é um gatinho de pelos que, de tão manso, mais parece de pelúcia. Perdeu completamente o poder político que tinha. Fosse uma entidade de respeito e vergonha, a Andifes botaria a boca no trombone e denunciaria, sem meias palavras, a fraude eleitoral que foi a expansão das universidades brasileiras: houve um aumento significativo no número de ingressantes, sem a contratação de professores e técnicos na mesma proporção, e, muito menos, sem a compra de equipamentos laboratoriais necessários. O aumento na estatística do número de universidades e estudantes nelas ingressados serve bem à sanha política do Partido dos Trabalhadores em dizer que o Ensino Superior melhorou no País. A greve dos professores, com mais de 50 universidades paradas, é um grito, acima de tudo, contra as péssimas condições de trabalho e de salários. E contra isso a Andifes nunca se posicionou clara e abertamente. O Reuni foi empurrado goela abaixo nas universidades brasileiras, numa espécie de chantagem oficial (que não aderisse não receberia recursos) e nada disse foi denunciado. Reitores e reitoras preferiram optar pela lógica do “pegar ou largar”. Resultado: instituições lotadas de estudantes, mas, sem professores, técnicos e laboratórios para dar conta da demanda recebida. Como não se posicionou firmemente contra a calamitosa imposição do Governo Federal, a Andifes decide apoiar incondicionalmente a greve dos professores, ainda que não seja o que grande parte dos reitores (e reitoras) defende. Nós, os professores, porém, agradecemos muito o apoio dos reitores e dos Consunis, mas, que fique claro uma coisa: não dependemos deles para entrar em greve ou dela sair. Se assim o fosse, estaríamos a fazer uma greve chapa-branca. E dessas não participo. E se sentir o cheiro dela no nosso movimento saio do Comando de Greve na hora.

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