quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"Os leigos podem e devem supervisionar a Ciência"


No livro “A Ciência em uma sociedade livre”, lançado pela Editora da Unesp, Paul Feyerabend, defende ideias que eu defendia há tempos, sem conhecer a sua obra. Por isso publiquei ontem, neste espaço, um dos episódios dos tantos que já enfrentei por propor que o Doutorado seja renovado a cada cinco anos. Ele, porém, é muito mais radical no referido livro: “Cientistas, educadores e físicos devem ser supervisionados quando envolvidos em empregos públicos, mas também devem ser observados cuidadosamente quando são chamados para solucionar os problemas de um indivíduo ou de uma família. Todo mundo sabe que bombeiros, carpinteiros, eletricistas nem sempre são confiáveis e que é uma boa ideia vigiá-los. Começamos comparando várias firmas diferentes, escolhendo aquela que dá as melhores sugestões e supervisiona cada passo do trabalho de seus funcionários. Isso também se aplica às chamadas profissões “superiores”: um indivíduo que contrata um advogado, consulta um meteorologista, solicita um relatório sobre os alicerces de sua casa não pode dar tudo por certo de antemão ou vai se ver com uma enorme conta nas mãos e problemas ainda maiores do que aqueles para os quais chamou o especialista. Tudo isso é bastante conhecido. Mas há algumas profissões que ainda parecem ser isentas de dúvidas. Muitas pessoas confiam em um medicou ou em um professor como teriam confiado em um padre nos velhos tempos. Mas médicos fazem diagnósticos incorretos, prescrevem remédios perigosos, cortam, fazem raios X e mutilam à menor provocação, em parte porque são incompetentes, em parte porque não lhes importa e até agora conseguiram escapar impunes, em parte porque a ideologia básica da profissão médica que foi formada como conseqüência da revolução científica só pode tratar de certos aspectos restritos do organismo humano, mas, ainda assim, tenta cobrir tudo com o mesmo método. De fato, o escândalo dos tratamentos inapropriados chegou a tal ponto que os próprios médicos agora aconselham seus pacientes a não se satisfazerem com um único diagnóstico, mas a procurar vários médicos e supervisionar o próprio tratamento. É claro, uma segunda opinião não deve ser restrita à profissão médica, pois o problema pode não ser a incompetência de um único médico ou de um grupo de médicos; o problema pode ser a incompetência da medicina científica de um modo geral. Assim, todo paciente deve ser o supervisor de seu tratamento, assim como se deve permitir a cada grupo de pessoas e a cada tradição que avalie os projetos que o governo deseja realizar em seu meio e ser capaz de rejeitar aqueles projetos que não considerarem adequados.
No caso dos educadores a situação é ainda pior. Pois, enquanto é possível determinar se um tratamento físico teve sucesso, não temos meios acessíveis para determinar o sucesso de um tratamento mental, da chamada educação. Ler, escrever, fazer contas e o conhecimento de fatos básicos podem ser avaliados. Mas o que pensar de um tratamento que transforma as pessoas em existencialistas de segunda mão ou filósofos da ciência? O que pensar das idiotices propagadas por nossos sociólogos e das atrocidades consideradas “produções críticas” por nossos artistas? Eles podem nos impingir suas ideias com impunidade, a menos que os alunos comecem a verificar seus professores assim como os pacientes começaram a verificar seus médicos: o conselho em todos os casos é usar especialistas, mas nunca confiar neles e certamente nunca depender deles inteiramente”. É curioso como os intelectuais e cientistas defendem com fervor o Controle Externo do Judiciário. Será que haveria o mesmo entusiasmo se fosse proposto, por exemplo, o Conselho Nacional de Ciência (CNC)? Quem bancaria essa ideia?

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