domingo, 29 de janeiro de 2012

Humanismo e tecnicismo na Educação Superior


É louvável a expansão das Escolas Técnicas promovida pelo Governo Federal com o nome de Institutos Federais. Ao que tudo indica, foi realizada com as condições muito melhores do que a dos campi das universidades brasileiras, que padecem da falta de condições estruturais mínimas para funcionamento. Esses institutos ganharam, inclusive, status administrativo de universidade. Chamo a atenção, porém, para algo que parece essencial: o regime didático-pedagógico. Na visão tradicional da educação, as escolas técnicas, embora transformadas em institutos, praticam o ensino técnico, ou seja, voltado especificamente para o mercado de trabalho, conhecimento popularmente como “tecnicista”, por meio do qual o estudante aprende técnicas do “fazer” e ponto final. A universidade, em tese, deve formar humanisticamente, para o exercício da cidadania. É algo como ensinar a refletir sobre o fazer. Acontece que, por exigência dos próprios estudantes e da sociedade, as universidades passaram a praticar um regime misto: reflexão sobre o fazer à medida que tenta ensinar a fazer. Uma tentativa de estruturar currículos que atendam as exigências do mercado e cumpram a essência da universidade: a formação humanística. Há algum erro em misturar os dois propósitos? Em tese, não vejo nenhum. Para que ocorra, porém, as universidades precisam ter laboratórios equipados comparativamente aos Institutos Federais. Seria preciso, também, flexibilizar o processo de contratação de professores para as disciplinas específicas e técnicas. Por exemplo: quem disse que um bom professor ou professora de Rádio e TV precisa necessariamente ter Mestrado e Doutorado? A carreira teria de mudar, também. Afinal, Mestrado e Doutorado não podem funcionar apenas como forma de engordar o salário dos professores. Não podem ser muletas para a carreira. O problema é muito maior do que o Governo publicar decretos dizendo: agora você é universidade e você é instituto tecnológico. Trata-se de um problema de alta complexidade que não se resolve apenas com a ampliação do número de uma ou de outro.

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